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Campanha propõe isolar idosos de regiões mais pobres em hotéis de BH

    A disseminação acelerada do novo coronavírus provocou o distanciamento social e o aumento dos cuidados com a higiene no mundo, a fim de conter o avanço da doença. No entanto, dados do Cadastro Único do Governo evidenciam que mais de 67 mil pessoas com mais de 60 anos moram nas favelas da capital. Este grupo, considerado de risco, fica à deriva do combate à pandemia por, geralmente, viver em moradias pequenas com diversas pessoas, muitas vezes em um ou dois cômodos e sem circulação de ar, expostos à péssimas condições sanitárias.

     

    Alarmado com a aproximação da Covid-19 nas periferias, o arquiteto e urbanista Alexandre Nagazawa, vice-presidente do Instituto dos Arquitetos do Brasil (IAB-MG), está ajudando a coordenar a campanha “Quartos da Quarentena” na capital mineira. A iniciativa propõe que a rede hoteleira faça o acolhimento da população vulnerável ainda não contaminada pela pandemia com abrigos dignos e seguros.

     

    Além do IAB-MG, fazem parte da campanha o Instituto Urbe Urge, o movimento Nossa BH, o Instituto Pólis, o Movimento Mineiro de Habitação, entre outros, que enxergaram na baixa demanda do setor de hotelaria, devido à crise sanitária, uma oportunidade para ajudar no combate à epidemia. Um levantamento realizado pela iniciativa estima que a capital mineira tenha mais de 20 mil leitos de hotéis com uma taxa de ocupação, atualmente, abaixo de 10%.

     

    As entidades avaliam que se cada um dos leitos abrigar uma pessoa vulnerável moradora de áreas de alto risco de contágio, cerca de 4 mil internações hospitalares com pacientes graves poderão ser evitadas. “Estamos propondo uma ação preventiva para não sobrecarregar o sistema de saúde e, consequentemente, conseguir salvar vidas.”, analisa Alexandre.

     

    Apesar do propósito ser semelhante ao dos profissionais da saúde, que estão sendo abrigados em hotéis a fim de não expor famílias ao possível contágio, o arquiteto esclarece que na proposta os quartos não serão transformados em leitos de hospital. “Para estes hotéis seriam levadas pessoas saudáveis, que estão nesta faixa de risco ou são imunodeprimidas, respeitando os vínculos e laços afetivos de cada um. Antes de isolar, devem ser feitos testes exaustivos para confirmar se alguém contraiu o vírus”, explica.

     

    Nagazawa avalia que o momento é delicado e exige a colaboração de todos para atravessar a crise econômica e social. “Existe muita desinformação e insegurança. Por isso, as pessoas seguem se aglomerando e vivendo a vida normal. É compreensível, pois, devido à falta de qualidade nas habitações, não conseguem ficar em casa ou precisam seguir trabalhando para manter a renda”, argumenta. “Por essa razão, queremos garantir que as pessoas classificadas como grupo de risco possam se isolar adequadamente e evitar a contaminação”, complementa.

     

    O especialista adianta que a campanha está sendo lançada, inicialmente, em Belo Horizonte, mas que haverá mobilizações em outras capitais brasileiras a partir da próxima semana. Os interessados em apoiar o movimento devem acessar o site bh.quartosdaquarentena.org. Nagazawa conta que campanha já colheu quase duas mil assinaturas virtuais. “Acredito que a prefeitura vem adotando boas medidas no combate à pandemia e esta iniciativa seria apenas mais uma delas”. Ele acrescenta que a ação vai de encontro aos interesses dos hotéis, que correm risco de fechar. “A parceria entre setor público e privado é uma oportunidade para equilibrar as contas e pensar de forma coletiva com ações sustentáveis. E o estado deve agir rápido, muito rápido antes que seja muito tarde”, enfatiza.

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