O mundo tem 10 anos para resolver seus desafios mais urgentes ou será tarde demais. É o que diz o novo livro do líder global em Estratégia e Liderança da PwC, Blair Sheppard, intitulado Ten Years To Midnight: Four Urgent Global Crises and Their Strategic Solutions (em tradução livre, Dez anos para a meia-noite: quatro crises globais urgentes e suas soluções estratégicas), no qual o autor mostra por que essa linha do tempo é tão crucial, quais são os desafios mais urgentes e os elementos-chave para se encontrar uma solução.
O livro surgiu a partir de uma pergunta: quais são as preocupações globais mais urgentes e como elas podem ser resolvidas ao mesmo tempo? O que Sheppard e a sua equipe descobriram é um novo caminho para reconstruir e revigorar as instituições, redefinindo o significado de nação e economia, forjando laços culturais e sociais compartilhados e reacendendo a inovação para o bem social. Para levar essas soluções adiante, o autor sugere um novo nível de imaginação, cooperação e urgência por parte dos líderes globais em todos os setores e países.
ADAPT
Parte dos desafios identificados pela equipe de Blair, ainda em 2017, podem ser enquadrados na estrutura chamada ADAPT (assimetria, interrupção, idade, polarização e confiança, na sigla em inglês). A aplicação da estrutura pode ser utilizada em diferentes níveis de análise – nações, indústrias, organizações e indivíduos –, resumindo alguns dos pontos cruciais que o mundo precisa enfrentar, especialmente após a pandemia da Covid-19.
Assimetria – A disparidade de riqueza no mundo aumentará em ritmo acelerado. Veremos mais desigualdades entre as nações, à medida que os seus líderes fazem as suas escolhas durante a crise. Com que eficácia, por exemplo, os países fornecem apoio financeiro às pessoas e organizações mais prejudicadas por suas decisões políticas?
Ruptura – A sensibilidade do mundo em relação aos desafios –como é o caso da atual pandemia– nos forçará a repensar como vivemos e trabalhamos, de modo que possamos estar mais bem preparados para futuros incidentes. Com a quarentena e o isolamento social, também estamos sendo forçados a viver quase que exclusivamente por meio da tecnologia.
Idade – Os efeitos das crises e suas consequências impactam de modo distinto as faixas etárias, mudando o contexto e as perspectivas da vida de muitas pessoas. Por exemplo, os desafios significativos da força de trabalho em todo o mundo serão ampliados em países com uma população jovem. No extremo oposto, os desafios que as populações envelhecidas apresentam para setores, como sistemas de saúde inadequados, foram acelerados e agora estão no centro da crise.
Polarização – O mundo começou a se fragmentar há muitos anos, mas agora este cenário se tornou ainda mais óbvio. É difícil prever as consequências psicológicas para a população, mas para a economia está claro: as organizações multinacionais terão que aprender a navegar em um mundo cada vez mais localizado e o multilateralismo terá uma necessidade ainda maior de ser reinventado.
Confiança – O declínio da confiança das pessoas nas instituições que sustentam a sociedade é uma das grandes crises recentes. As pessoas desconfiam e, em alguns casos, ignoram as recomendações oficiais.
Quatro crises mundiais em curso
Blair argumenta que o período de progresso econômico e social iniciado nos EUA pelo Plano Marshall agora se desfez. E, em vez de uma história constante de progresso, o mundo enfrenta quatro crises:
– Uma crise de prosperidade, com crescente desigualdade, poucas possibilidades à disposição dos jovens, uma classe média espremida e uma massa de pessoas à beira da aposentadoria, mas sem as economias necessárias para o seu sustento;
– Uma crise tecnológica, já que nosso sistema econômico impulsiona a inovação, mas falha em gerenciar consequências negativas não intencionais que poluem os principais elementos de suporte à vida, da nossa atmosfera às nossas notícias;
– Uma crise de legitimidade institucional, à medida que as instituições tradicionais tentam manter suas atuais estruturas diante das principais forças globais e se veem se curvando em vez de buscar a adaptação;
– Uma crise de liderança, pois quem deve nos ajudar a administrá-la se concentra em outras prioridades, em vez de liderar o mundo em busca de soluções.
Tendo trabalhado com líderes globais em inúmeras áreas, Sheppard argumenta que essa mudança exige uma nova abordagem de liderança que abrace elementos aparentemente contrastantes para ser humanamente e tecnologicamente mais experiente, heroica e humilde, enraizada na tradição, mas também inovadora.
Com base em novos dados e análises realizadas, o autor argumenta que empresas, governos e sociedade civil devem adotar uma abordagem diferente daquela que impulsionou o desenvolvimento econômico do século 20. Ele defende uma ênfase maior nas economias locais, bem como no rápido dimensionamento de soluções inovadoras, uma reformulação da política de inovação para incorporar os resultados sociais no desenvolvimento tecnológico, maior uso de parcerias público-privadas com objetivos claros e medidas mais inclusivas de sucesso.