Após certa estagnação da atividade, devido à pandemia, o setor de consultoria espeleológica apresenta sinais de retomada. Quem faz essa constatação é o geólogo e espeleólogo Augusto Auler.
Pioneiro, Auler fundou a Carste Ciência e Meio Ambiente em 2006, com foco em ser uma consultoria especializada em espeleologia e relevos cársticos. Após 15 anos e agora sob novo nome, Carste Ciência Ambiental, a empresa segue sendo uma referência e a maior do país no segmento.
De acordo com o pesquisador e empresário, o leque de possibilidades para o setor se expandiu sobremaneira em 2008, quando o governo federal baixou o Decreto 6640, que dispõe sobre a proteção de cavidades naturais em todo o território nacional.
Diante da necessidade de mapear, estudar, proteger e avaliar o potencial impacto de grandes empreendimentos em regiões onde possuem cavernas, foi criada uma demanda de serviço ainda mais técnico para as consultorias ambientais espeleológicas.
Ele explica que geólogos, geógrafos, biólogos, engenheiros ambientais, entre outros profissionais podem atuar no segmento. Ainda assim, conforme pontua, é uma área em que muitas pessoas têm curiosidade e dúvidas sobre como se inserir mercadologicamente.
Diante disso, Augusto Auler vai ministrar nesta sexta-feira, dia 7 de maio, às 10h30, a palestra “Cenário Atual e Perspectivas para a Consultoria Espeleológica”, quando pretende debater o crescimento do setor, riscos e fragilidades da área. A transmissão vai ocorrer pelos canais das redes sociais da empresa. O evento faz parte do cronograma de celebração dos 15 anos da Carste Ciência Ambiental.
Cauteloso, Auler fala que ainda é cedo para se falar em crescimento, mas os indícios de retomada de crescimento são satisfatórios. Prova disso é que entre 2020 e 2021, a Carste Ciência Ambiental registrou uma alta de considerável no pedido de propostas.
CONSULTORIA CONTRIBUIU PARA O AVANÇO DO CONHECIMENTO ARQUEOLÓGICO E PALEONTOLÓGICO
Quem pensa que encontrar vestígios seculares sobre a humanidade e seres vivos que habitaram a terra é tarefa única de arqueólogos e paleontólogos está enganado. Isso porque, há outros profissionais em campo que ao realizarem estudos em cavernas se deparam com relíquias que resistiram aos séculos. São eles geólogos e espeleólogos.
Dentre as principais atividades desenvolvidas pela Carste Ciência Ambiental está a avaliação ambiental de cavernas, cujo estudo é conhecido como espeleologia. Em suas mais de quatro centenas de trabalhos realizados desde 2006, a consultoria ambiental foi responsável pela descoberta e estudo de alguns milhares de cavernas em vários estados do Brasil. Durante essas descobertas, os técnicos se deparam muitas vezes com sítios arqueológicos e paleontológicos.
“Cavernas são locais abrigados de agentes erosivos que degradam material orgânico e arqueológico na superfície, como sol, chuva e enxurradas, etc. Por isso, elas conservam tão bem vestígios arqueológicos e paleontológicos”, explica.
Augusto Auler afirma ainda que, ao longo dos anos, a consultoria foi capaz de fazer contribuições expressivas para o conhecimento arqueológico em regiões ferríferas do Pará e do Quadrilátero Ferrífero de Minas Gerais, assim com regiões calcárias mineiras. “Sítios com pinturas rupestres, vasos cerâmicos, material lítico (feitos em pedra) ou vestígios orgânicos, como ossos de animais extintos, foram encontrados e reportados aos clientes e, por fim, aos órgãos ambientais competentes”, pontua.
COMO ENCONTRAR CAVERNAS AUXILIA NA PROTEÇÃO AMBIENTAL DE GRANDES ÁREAS
No Brasil, cavernas são protegidas pela Constituição Federal de 1988 e pertencem à União, ou seja, a todos os brasileiros. Conforme explica, ao longo dos anos foram criados vários mecanismos, sob forma de instrumentos jurídicos, para detalhar como se dá esta proteção. “Um dos pontos mais interessantes das leis diz respeito a Portaria 887 de junho de 1990, do IBAMA, que estabelece que a caverna deve ser protegida juntamente com uma área a seu redor de 250 metros”, explica Auler. “Pode parecer pouco, mas isso resulta em uma área total de 20 hectares, equivalentes a mais de 20 campos de futebol de tamanho oficial”, destaca. “Cavernas muitas vezes ocorrem em conjunto, umas próximas a outras. A soma desses espaços de proteção muitas vezes resulta em áreas consideráveis”, observa.
Conforme explica, para que seja aplicada esta lei, basta identificar uma caverna e obter suas coordenadas. Estes dados devem ser enviados ao cadastro oficial de cavernas do ICMBIO, denominado CANIE. A caverna passa a estar automaticamente protegida até que estudos detalhados sejam realizados e analisados pelos órgãos ambientais competentes.
“Não existe nada similar em todo o mundo. Muito embora trate-se de um mecanismo temporário de proteção, pois posteriormente a caverna pode vir a ter – caso não seja de relevância máxima – impactos autorizados (normalmente, mediante compensação), é um mecanismo que assegura, com grande facilidade, uma proteção até que outras medidas possam ser tomadas”, garante Augusto Auler.
Ao longo de seus 15 anos de existência, a Carste Ciência Ambiental contribuiu significativamente para a proteção das cavernas, com a identificação de alguns milhares de grutas, o que resultou na proteção de importantes regiões.