Mais do que tendência, uma das principais práticas no mercado de trabalho, hoje, é a promoção da diversidade e da inclusão, com equidade no ambiente corporativo. O mês de março é sempre marcado pela celebração do Dia Internacional da Mulher (8/3) e provoca algumas importantes reflexões sobre a participação delas no mercado de trabalho. É verdade que o cenário tem melhorado ano a ano, mas ainda existe um longo percurso pela frente, especialmente quanto à equidade de oportunidades e salários dentro das organizações.
Diante de vários aspectos sobre DE&I (diversidade, equidade e inclusão), é de vital importância que o tema da igualdade de gêneros seja tratado ao longo de todo o ano – a partir dos integrantes do Conselho de Administração, da alta gestão até as demais lideranças da companhia -, por ter conexão direta com os resultados da empresa.
No cenário atual que vivemos, que tem constantemente ampliado a disrupção do mercado de trabalho e onde a escassez de mão de obra é latente, tratar de diversidade, inclusão e equidade é essencial. É preciso olhar para todo o ecossistema da empresa, o que significa que não basta apenas criar comitês de discussão sobre os variados temas. Esse tipo de mudança na cultura corporativa só será efetiva quando a empresa alterar as rotinas e as políticas internas e chamar, como corresponsáveis para a alteração, seus gestores.
Mudar o mindset é de fundamental importância. Para isso, todo o ecossistema deve ser questionado e revisto, pois não é um tema que se restrinja ao ambiente corporativo: são necessárias políticas fortes no âmbito governamental e uma mudança de cultura dentro dos lares, para que as mulheres tenham as mesmas condições de competitividade no mercado de trabalho que os homens. Por que ainda causa estranheza um homem sair mais cedo do trabalho para levar o filho ao médico, por exemplo? Essa e várias outras questões precisam ser confrontadas, pois vão refletir nessa mudança tão almejada.
Uma coisa é certa: ter mulheres no time de talentos é sinônimo de faturamento maior. Diversas são as pesquisas, realizadas globalmente, que comprovam que elas são mais empáticas, melhores em processos de coaching e mentoria, além de terem alta capacidade de influência, liderança e gestão de conflitos. São versáteis, têm grande
adaptabilidade e se destacam nos trabalhos em equipe, negociação e orientação para resultados.
Apesar do cenário positivo, o número das profissionais em posições estratégicas no mundo corporativo continua baixo. Recente levantamento feito pela BR Rating, agência de rating de governança corporativa do Brasil, aponta que apenas 3,5% das corporações têm mulheres atuando como CEOs. A pesquisa mostra também que os homens ocupam 84% dos cargos de diretoria e as mulheres 16%, enquanto os cargos gerenciais têm à frente 81% de homens e 19% de mulheres. Então, fica a pergunta: com tantas competências, por que as organizações, em muitos casos, insistem em não incrementar efetivamente a quantidade de mulheres em todas as posições? A maioria delas reúne as habilidades exigidas para os cargos.
É importante lembrar que tanto as mulheres quanto os homens devem buscar, continuamente, o aperfeiçoamento quanto às competências técnicas e comportamentais, as tão faladas soft skills. Independentemente do gênero, em um mundo competitivo, irá se destacar apenas profissionais que, de fato, se diferenciarem e entregarem os melhores resultados.
Cada vez mais, em processos seletivos conduzidos pela Prime Talent Executive Search, percebemos a procura das empresas por profissionais plurais, capazes de transitar e achar equilíbrio em várias esferas corporativas e da vida pessoal. O que muitas mulheres fazem muitíssimo bem. Há companhias que já instituíram que determinadas posições de alta gestão, o short list (candidatos finalistas) dos processos seletivos, sejam ocupadas apenas por mulheres. Desta forma, essa visão tem garantido a realização, mesmo que lenta, desse processo de transformação.
Para que a equidade de gênero seja aplicada de fato, ela deve ser atrelada à governança corporativa. Para isso, as empresas precisam ter área de Recursos Humanos que
orquestre a temática, com o engajamento de todos, a fim de desenvolver ações que aumentem o número de mulheres em todos os níveis hierárquicos.
É preciso entender que o processo de mudança não ocorre da noite para o dia e exige consistência, resiliência e, acima de tudo, competências. Apropriar-se da sensibilidade, sensatez e assertividade femininas pode ser o diferencial que muitas empresas precisam para sobreviver aos próximos tempos, se reinventando dia após dia. E não seriam esses os ingredientes para promover a tão falada inovação?
A presença crescente de mulheres em posições de liderança nas empresas precisa ser parte do DNA da companhia e integrar a cultura da organização, por meio de ações que possam ser vivenciadas no dia a dia e por estarem totalmente conectadas ao relevante tema de ESG (sigla em inglês que engloba os conceitos de ambiente, social e governança). Esse posicionamento é que garantirá a perenidade das empresas daqui para frente.
* David Braga é CEO, board advisor e headhunter da Prime Talent Executive Search. É também Conselheiro de Administração pela Fundação Dom Cabral (FDC) e professor convidado pela mesma instituição. Ele é autor do livro Contratado ou Demitido – só depende de você e atua, ainda, como conselheiro da ONG ChildFund, da ACMinas e da Associação Brasileira de Recursos Humanos de Minas Gerais (ABRH-MG).
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