Foi lançada hoje (25/11), no município de Santa Luzia, a pedra fundamental do Museu da Cozinha Mineira, que terá como sede o histórico casarão da Fazenda Boa Esperança. O espaço cultural, com previsão de inauguração para o primeiro semestre de 2024, vai contribuir para a valorização da cozinha mineira como patrimônio cultural imaterial. A sua criação é resultado de uma parceria entre a Prefeitura de Santa Luzia, que cedeu e vai restaurar o edifício da Fazenda, e o Instituto Periférico, contratado por meio de chamamento público para a concepção do museu.

A principal missão da instituição será contribuir, por meio de conservação, pesquisa, formações, eventos, exposições e ações educativas, para o fortalecimento da cozinha mineira, gerindo e promovendo experiências significativas, multissensoriais, tecnológicas e reflexivas sobre suas histórias, patrimônios, saberes e sabores.

O museu contará com exposições de longa duração, mostras de média e curta duração e outras atividades. O espaço expositivo deverá ser composto por acervo relacionado ao tema, além de apresentar recursos tecnológicos e acessíveis que incentivem a interação dos visitantes com a sede da fazenda. A expectativa é que o museu seja um lugar de encontro, que possa mostrar tudo que a nossa cozinha representa para o Estado de Minas Gerais, para o Brasil e, também, para visitantes de outros países.

A implementação, abertura e continuidade das ações são hoje de grande interesse público em nível local, estadual e nacional, com potencial para também se firmar internacionalmente, tendo em vista o projeto que está sendo desenvolvido para a patrimonialização da cozinha mineira.

O primeiro passo para o estabelecimento do museu a partir do lançamento da pedra fundamental são as obras de restauro do casarão principal, além do desenvolvimento do plano de recuperação e plano diretor para ocupação das demais áreas da Fazenda Boa Esperança. O processo de restauro já começou e inclui uma equipe de arquitetura especializada. A previsão das obras é de nove meses e já foram realizadas prospecções e desenvolvidos os projetos correspondentes para as primeiras etapas da restauração.

Concomitante às obras da casa, estão sendo produzidos o plano museológico e o plano expográfico, além de um inventário do acervo e a proposta para as primeiras exposições e atividades a comporem a programação do museu. Entre outras ações a serem executadas em curto prazo (até dois anos), estão a elaboração e implementação de plano de sustentabilidade; lançamento de ao menos um edital de ocupação de espaços para empreendimentos como cafés, restaurantes ou lojas; aprovação de ao menos um projeto próprio para captação de recursos via incentivo fiscal e desenvolvimento e implementação de plano de parcerias junto a empreendedores locais, setor gastronômico mineiro e turístico. Também está prevista a instalação de uma escola de gastronomia social no local.

De acordo com a diretora-presidente do Instituto Periférico, Gabriela Santoro, o Museu chega para materializar conhecimentos e acervos referentes às tradições, modos de fazer, culturas alimentares, personas, lugares e festas que compõem a diversidade e complexidade da cozinha mineira.

“O museu pretende abrigar informações, imagens e objetos e ser, também, um espaço de discussão e reflexão acerca da salvaguarda de nossos saberes. Realizá-lo em Santa Luzia significa reconhecer a importância histórica deste e de tantos outros municípios mineiros que foram constituídos a partir das rotas de tropeiros e que, hoje, preservam importantes conjuntos patrimoniais materiais e imateriais. O lançamento da pedra fundamental é o início de um ciclo de ressignificação da Fazenda Boa Esperança e de preparo, pesquisa e desenvolvimento do pensamento curatorial para este museu que, certamente, será recheado de elementos práticos, afetivos e simbólicos da nossa cozinha mineira”.

A secretária de Cultura e Turismo de Santa Luzia, Joana Coelho, destaca a relevância do município ter sido escolhido para sediar o museu, em uma articulação entre Prefeitura, o Instituto Estadual de Patrimônio Histórico e Artístico (Iepha-MG) e o Governo de Minas Gerais. “Lançar essa pedra fundamental é o primeiro passo da realização de um sonho. Transformar essa fazenda, que é muito importante para a memória afetiva do cidadão luziense, em realidade de utilização é mais um passo do trabalho para tornar Santa Luzia uma referência de cultura e turismo na região metropolitana de Belo Horizonte”.

Santa Luzia

Ao analisar a gastronomia diversificada existente em Minas Gerais, percebe-se que Santa Luzia possui em sua história fatos relevantes que lhe proporcionaram particularidades no que diz respeito à cozinha mineira. O primeiro deles resulta do fato dessa cidade ter sido um ponto amplo de distribuição de alimentos desde o período colonial.

De acordo com a Especialista Educacional do Senac e pesquisadora em gastronomia, Vani Pedrosa, que apresentou durante o evento a pesquisa “Primórdios da Cozinha Mineira em Santa Luzia”, a escolha da cidade para sediar o Museu dará aos mineiros a possibilidade de agrupar memórias distintas da cidade e de outros lugares do estado, memórias e saberes trazidos pelos caminhos que chegavam à Santa Luzia. “Mais do que ser um lugar para o encontro da memória alimentar de Minas Gerais, o museu mostrará como ela se formou e se desenvolveu, seu lugar na economia e na vida cotidiana dos mineiros”.

Para demonstrar um pouco dos sabores e saberes que ainda hoje perduram na região, a equipe do Senac apresentou alguns insumos e preparou alguns pratos locais, como o pastel e o bolinho de feijão. Toda a pesquisa apresentada pela instituição, que faz parte do Sistema Fecomércio, reforçou a já conhecida importância do município para a cozinha mineira e chancelou a escolha do local para receber o museu.

Além de todo esse contexto histórico, Santa Luzia tem uma localização privilegiada junto aos aeroportos de Confins e Pampulha, em uma distância curta da capital de Minas Gerais e conta com a Fazenda Boa Esperança, que, assim como a cidade, possui valor patrimonial para a região. A expectativa é que Santa Luzia resgate o valor e promova o desenvolvimento do turismo regional, tornando o Museu da Cozinha Mineira referência no país e até internacionalmente.

 

Fazenda Boa Esperança

O museu será instalado na Fazenda Boa Esperança, que será restaurada pela prefeitura local. O imóvel é um exemplar da arquitetura rural mineira do final do século XIX. A edificação principal é uma construção colonial e se integra perfeitamente à natureza local. O principal detalhe arquitetônico é seu alpendre, exemplar das raízes mineiras. As obras serão conduzidas por uma empresa de arquitetura especializada em restauro e contam com a consultoria da arquiteta urbanista especialista em conservação e restauração Deise Lustosa

Cozinha Mineira Patrimônio

A Secretaria de Estado de Cultura e Turismo (Secult), por meio do Instituto Estadual do Patrimônio Histórico e Artístico (Iepha-MG), e o Instituto Periférico são responsáveis pelo processo de reconhecimento da cozinha mineira como Patrimônio Cultural de Minas Gerais. No momento, o projeto encontra-se na fase de produção do inventário da Cozinha Mineira, composto por um dossiê e por indicação de ações de salvaguarda e promoção, com o objetivo de transformar a cozinha mineira em patrimônio cultural imaterial de Minas Gerais.

Além da entrega do dossiê, o inventário prevê a produção de publicações que ajudarão a promover a história, a diversidade e os protagonistas dos sabores e dos saberes da comida mineira. Dentro os materiais também estão previstos videodocumentários, um caderno de patrimônio, filmetes promocionais e um site, incluindo também ações de aperfeiçoamento como seminários e oficinas virtuais, para agentes culturais e turísticos, e palestras em escolas públicas.

​A proposta de reconhecimento da cozinha mineira como patrimônio cultural integra o Plano Estadual de Desenvolvimento da Cozinha Mineira, importante instrumento para a articulação de políticas públicas e parcerias envolvendo gastronomia, cultura, turismo e desenvolvimento econômico, lançado em fevereiro deste ano pelo Governo de Minas.

By Nimai Dasa

Nimai Dasa profissional formado em Comunicação Social e atua como jornalista a mais de 15 anos.

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