Na última segunda-feira do mês, o Ars Nova – Coral da UFMG retorna ao Conservatório de Música da UFMG para mais uma apresentação. O foco do grupo neste ano é a música composta no século XX, divulgando não apenas os compositores brasileiros, mas também novos repertórios de compositores internacionais, com ênfase em obras ainda consideradas inéditas no Brasil. Esta é uma maneira de incentivar a produção de novas obras para coral, além de garantir que cantores e público pratiquem e escutem a música de nosso tempo, com suas idiossincrasias, seus contrastes, suas coerências e incoerências.
O repertório tem início com a canção Ave, Generosa, do compositor norueguês Ola Gjeilo (1978) e com texto de Hildegard von Bingen (1098-1179), considerada uma das primeiras mulheres compositoras da História da Música. Este moteto, escrito em 2016 para vozes femininas a cappella, se caracteriza por sua delicadeza melódica sem abrir mão da linguagem contemporânea que explora contundentes dissonâncias.
Em seguida, o Ars Nova interpreta Three Madrigals, da compositora norte americana Emma Lou Diemer (1927), para coro e piano traz 3 poemas de William Shakespeare, cada um deles explorado de maneira diferente: harmonias transparentes em “O Mistress Mine, Where Are You Roaming?”, harmonias pesadas em “Take, O Take Those Lips Away” e rápidas provocações ao piano em “Sigh No More Ladies, Sigh No More!”. A seguir, o coro apresenta Timor et tremor, Vinea mes Electa e Tristis est anima mea, do francês Francis Poulenc (1899-1963). Esses são, respectivamente, o primeiro e o último dos quatro motetos do ciclo Quatre Motets pour un Temps de Pénitence, onde o compositor explora dissonâncias dolorosas, estresses cromáticos, pinta quadros com gestos rítmicos e melódicos, numa grande e envolvente alegoria.
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Após, o moteto estrófico Corpus Christi Carol, do norueguês Trond Kverno (1945), que possui como texto um hino medieval inglês. O significado do texto está relacionado ao Santo Graal, lenda Arturiana que fala sobre o cálice usado por Jesus Cristo, na última ceia. A apresentação se encaminha para o fim com My Flight for Heaven, do compositor americano Blake R. Henson (1983), e texto do poeta inglês Robert Herrick (1591-1674). Essa obra a cappella fala sobre a busca de conforto no abraço da morte como saída para uma nova vida sem dor, sofrimento, guerra ou fome.
E então, o Ars Nova faz uma homenagem a 2 compositores brasileiros: Marlos Nobre (1939), pernambucano que compôs Cancioneiro de Lampião, 3 Corais Brasileiros para coro misto a cappella, opus 52, uma trilogia escrita em 1980, com canções baseadas no folclore nordestino, com alusões ao famoso cangaceiro Virgulino Ferreira, o Lampião (1898-1938). Com esta obra, nós celebramos os 120 de nascimento e 80 anos de morte de Lampião. E o maestro Carlos Alberto Pinto Fonseca que, em 1964, fundou o Ars Nova – Coral da UFMG.
O maestro compôs um vasto acervo de peças para coro e inúmeros arranjos de peças do folclore popular brasileiro, sendo sua obra prima a Missa Afro-Brasileira de Batuque e Acalanto, composta em 1971. Dela extraímos o belíssimo Dona nobis Pacem, para encerrar o concerto desta noite, desejar paz ao mundo e celebrar os 85 anos do Fundador.