Doença autoimune, na qual o próprio sistema de defesa do organismo ataca as células do cérebro, tronco encefálico e da medula espinhal, a esclerose múltipla (EM) ainda carrega muitos estigmas, principalmente por acometer mais mulheres jovens, com idade entre 20 e 40 anos. A pouca informação sobre a doença entre a população em geral e o impacto do diagnóstico são prejudiciais e podem influenciar na eficácia do tratamento e na qualidade de vida das pessoas que convivem com ela. Para levar informações à população, o dia 29 de maio foi escolhido para ser o Dia Mundial da Esclerose Múltipla, que acomete cerca de 2,5 milhões de pessoas em todo o mundo. Apesar de ainda não ter cura, a EM é objeto de estudo de pesquisadores do mundo todo, que buscam contribuir para a melhoria na qualidade de vida dos portadores.
No sábado (27), a Rede Mater Dei de Saúde em Belo Horizonte vai promover o 1º Esclerose Múltipla Day, evento voltado para pacientes, familiares e pessoas com suspeita de EM, profissionais e estudantes da área de saúde e demais interessados no tema. O encontro híbrido, que será realizado na Unidade Contorno e on-line, já tem cerca de 200 inscritos e contará com especialistas na doença que falarão sobre vários temas relacionados à esclerose múltipla.
“Esse evento é de grande importância para levar informação qualificada para as pessoas e vai reunir grandes especialistas que abordarão vários aspectos da doença. Não apenas sobre tratamentos em si, mas também sobre a questão psíquica do paciente, a importância da alimentação e das atividades físicas, e até a gravidez para mulheres com esclerose múltipla”, comenta a neurologista, especialista em esclerose múltipla e coordenadora do Centro de Tratamento em Esclerose Múltipla da Rede Mater Dei de Saúde, Juliana Santiago.
A doença, segundo ela, existe porque o corpo confunde uma estrutura do sistema nervoso central com um agente externo, gerando assim uma inflamação em diferentes partes do cérebro. “Essa inflamação gera perda da mielina, uma camada de gordura que cobre os neurônios. É como se a fiação de uma casa, em que os fios são encapados para que a eletricidade passe com mais velocidade, fossem desencapados: a energia não passa com a velocidade adequada e começa a falhar. Quando a EM atinge determinada parte do corpo é a mesma coisa, ela começa a falhar”, exemplifica.
A causa da esclerose múltipla ainda é desconhecida, mas os médicos acreditam que seja provocada por diversos fatores, principalmente do encontro de uma predisposição genética com o ambiente em que o portador vive. “Existem estudos que apontam para gatilhos virais, outros relacionam a baixa exposição solar, mas ainda não existe um fator definido”, diz a médica. Por ser uma doença rara e ainda pouco conhecida pela população e pelos próprios médicos, o programa Mais Saúde Mater Dei criou o Centro de Tratamento em Esclerose Múltipla com o objetivo de melhorar ainda mais o atendimento aos pacientes.
“Com uma equipe de especialistas, o centro atua de forma a dar toda segurança e ofertar os cuidados adequados durante o tratamento. Além de poder marcar consultas com especialistas em esclerose múltipla, o paciente pode fazer todos os exames laboratoriais e de ressonância magnética no hospital, além de contar com o serviço do centro de infusão de medicamentos. Importante também lembrar que a rede tem outros profissionais como nutricionista, ginecologista, especialista em fertilidade, que atuam em conjunto para o atendimento multidisciplinar dos pacientes com a doença”, pontua a neurologista.
Sintomas – A esclerose múltipla pode dar sinais no cérebro, medula ou nervos ópticos. Por isso, sempre que surgir um sintoma súbito de dificuldade visual, alteração de sensibilidade (como perda de sensibilidade, dormência ou formigamento), fraqueza em alguma parte do corpo e/ou dificuldade de coordenação ou equilíbrio é recomendado que a pessoa busque a busca por uma avaliação neurológica urgente. Esses sintomas são alertas para uma avaliação mais imediata, não apenas por poderem ser sinal da EM, mas por se assemelharem a outras doenças neurológicas, como acidente vascular cerebral (AVC).
Tratamento – Ao contrário do que muitos pensam, na atualidade a esclerose múltipla é uma doença tratável. Já existem diferentes tipos de tratamentos profiláticos que reduzem a atividade da doença e o risco de incapacidade, promovendo qualidade de vida para o paciente. Esses medicamentos buscam modular o sistema imunológico, reduzindo o risco de surtos da doença, novas lesões assintomáticas na ressonância e a chamada progressão.
Em relação ao tratamento do sintoma agudo da doença, chamada de surto, geralmente é realizada a pulsoterapia, que consiste num esquema com altas doses de corticoide dadas por três a cinco dias, com o objetivo de acelerar a recuperação mais imediata do paciente em crise.
Na Rede Mater Dei, esse tratamento pode ser feito com o paciente internado ou em nível ambulatorial, dependendo do contexto clínico. “O tratamento da EM evoluiu muito nos últimos anos e, atualmente, temos diversas opções de medicações disponíveis. Hoje sabemos que devemos tratar o quanto antes e da melhor maneira possível, individualizando a escolha do tratamento de acordo com as características de cada pessoa.